Headless Cross – Um pedido de desculpas do Black Sabbath?

Eu sei que peguei bem pesado na minha crítica contra o álbum Eternal Idol, mas é que me irrita ver uma banda tão brilhante lançar um álbum aquém de suas capacidades. E também dá raiva que a produção do álbum conseguiu afundar de vez o disco. Quem sabe se com uma produção mais acertada algumas músicas teriam maior destaque?

Pois bem, tudo o que critiquei em Eternal Idol não se aplica ao seu sucessor. Continuando minha jornada pela era “tonymartiniana” do Black Sabbath, agora me deparo com o segundo álbum desta fase, chamado Headless Cross, lançado em 1989.

Sim, aqui ainda temos MUITO da sonoridade oitentista que definitivamente não combina com o Black Sabbath, mas ela foi usada de uma maneira que realmente se encaixou com a proposta das músicas, as quais são, de modo geral, muito bem compostas e trabalhadas. É um salto gigantesco que se vê no interregno de 2 anos de distância entre os 2 álbuns.

Esse álbum é tão bom que até me parece um pedido de desculpas, quase de maneira shostakovitchiniana (leiam sobre sua quinta sinfonia).

A formação desse disco é outro ponto de destaque. Além de dos “Tonys” (Iommi e Martin), temos ainda Neil Murray e Cozy Powell (este dispensa apresentações).

Vamos então ao faixa-a-faixa:

1 – Gates of Hell.

Típica introdução climática para preparar o ouvinte ao álbum. Nem mesmo pode ser considerado música na concepção normal do termo.

O curioso é que, durante a turnê realizada para promover este álbum, a banda optou por usar “Ave Satani“, tema principal da premiada trilha sonora de Jerry Goldsmith para o filme ‘A Profecia’, como introdução. A atmosfera criada por “Ave Satani” fluía perfeitamente para uma gravação de “The Gates of Hell“, marcando assim o pontapé inicial para o show com “Headless Cross“.

Essa mescla de “Ave Satani/The Gates of Hell” tornou-se intro das turnês ao longo dos anos. Sendo retirada do set a partir da Reunion Tour (a turnê de quando o Ozzy voltou para a banda).

2 – Headless Cross.

Agora sim o disco começa para a valer com uma intro de bateria do sempre brilhante Cozy Powell, em seguida o Tony Iommi emenda com riff muito legal (ele sempre faz jus à fama de riffmaker).

Não me derreto em elogios por Tony Martin, para variar a performance dele é genérica e forçada, mas as melodias vocais são excelentes. Além disso temos a banda como um todo que funciona muito bem, o instrumental é excelente.

Em suma, uma música muito boa.

3 – Devil & Daughter.

Esta faixa se chamava originalmente Devil´s Daughter, entretanto a banda achou prudente mudar o nome tendo em vista que o Ozzy já havia lançado uma faixa de mesmo nome em seu álbum no Rest for The Wicked lançado menos de um ano antes.

Quanto a música em sim, o maior destaque, ao meu ver, é o riff inicial. Sem exagero, mas considero um dos melhores que Tony Iommi já compôs. E, é claro, o restante da música é muito legal.

4 – When Death Calls.

Essa, sem dúvida, é o grande destaque do álbum. É uma faixa que pode tranquilamente figurar no top 20 da carreira do Black Sabbath.

O mais legal dessa música é que ela apresenta várias sessões distintas entre si. No início temos quase que uma balada, com uma instrumental muito bem construiída e um Tony Martin com uma performance visivelmente inspirada.

Depois dessa introdução quase-balada, chegamos ao refrão principal e pesado. É Black Sabbath até dizer chega.

Fico imaginando se esse álbum tivesse sido gravado por Ronnie James Dio. Tenho certeza que teríamos uma grande obra-prima do Heavy Metal.

Depois da sessão quase-balada e o refrão se repetirem entra o trecho com uma levada mais uptempo, numa vibe meio NWOBHM. E eis que chega o convidado ilustre do álbum: Brian May contribuindo com seu solo. É nítida a diferença de estilos entre Iommi e May, mas o solo se encaixou absurdamente bem.

5 – Kill in the Spirit World

Já estou cansado de escrever “olha que riff sensacional“, mas ouvir Black Sabbath é realmente ser submetido a constantes audições de riffs geniais.

Essa é outra música muito boa. Só não dou nota 10 para ela pelo motivo que a produção oitentista não combina. Eu não sei explicar, mas eu identifico uma vibe anos 70 nela.

6 – Call of the Wild

Eu sempre jurei que essa música já foi utilizada em algum comercial dos cigarros Hollywood. Mas até hoje não encontrei a prova disso. Talvez seja algum Efeito Mandela aplicado única e exclusivamente ao meu cérebro.

De qualquer forma eu considero essa a segunda melhor faixa do disco. O riff é sensacional, as linhas vocais são sensacionais e o refrão, então, é nota 10. É uma música que gruda na cabeça mas num sentido bom, não é um earworn torturante.

Nesta faixa eu tenho que tirar o chapéu para o Tony Martin. Ele alcança registros vocais agudos que são impressionantes. E é digno apontar que no meio da faixa há uma modulação para uma tonalidade ainda mais elevada. É necessário muito gogó pra cantar essa pérola.

Uma curiosidade é que o nome original desta música era “Hero”, mas, tal como Devil & Daughter, a banda achou por bem mudar devido ao fato que o Ozzy lançou outra faixa de mesmo nome no No Rest for the Wicked. O que será que estava provocando esses “transmimentos de pensações” entre as bandas?

7 – Black Moon.

A impressão que eu tenho é que essa faixa caberia perfeitamente no repertório do Deep Purple. O riff inicial é muito Blackmore. Eu acho que casaria muito bem o David Coverdale cantando ela.

Uma curiosidade é que essa música foi composta em conjunto com o Ray Gillen, vocalista que foi substituído pelo Tony Martin para gravar o desastroso Eternal Idol.

8 – Nightwing

Eu acho que essa é a única chatinha do álbum. Não sei se essa sensação se deve ao fato de ser a última música, onde a voz do Tony Martin já causou uma certa fadiga auditiva. Nesta faixa, o vocalista parece estar forçando muito a voz.

Mas, causando fadiga ou não, é inevitável catalogá-la como filler track.

Considerações finais.

Ao final dessa intensa jornada musical, é evidente que Black Sabbath nos entregou um álbum que tem pontos altos notáveis. Comparando Headless Cross com seu predecessor, Eternal Idol, fica evidente a evolução que a banda teve em apenas dois anos. A sonoridade oitentista, que inicialmente pareceu estranha quando misturada com o estilo característico do Black Sabbath, mostrou-se mais harmoniosa e bem integrada neste álbum.

Este álbum definitivamente é um clássico subestimado. Nesta transição significativa de sonoridade da banda que começou com o Seventh Star e o Eternal Idol, temos aqui um grande acerto. Seja pela genialidade dos riffs ou pelas linhas vocais memoráveis, esse álbum merece ser revisitado por qualquer fã de metal oitentista.

Nota: 8,0

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